Na última terça-feira o Presidente da República se envolveu em uma grande polêmica. Bolsonaro decidiu atacar o carnaval de rua com a postagem de um vídeo de escatologia. No texto que acompanhou o vídeo ele disse: “temos que expor a verdade (…) é isso que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”. Esse tweet é revelador tanto da tentativa de desumanizar grupos de pessoas, quanto da dificuldade em priorizar reais problemas sociais.
O balanço do carnaval em nosso estado, nossa capital e nossa região revela, com muita clareza, que as nossas prioridades são completamente diferentes. Durante o feriado, entre sexta e quarta-feira, os acidentes nas estradas mineiras vitimaram 27 pessoas. Belo Horizonte teve o carnaval mais violento dos últimos anos. Apenas na Savassi, bairro nobre da capital, três pessoas foram baleadas durante a festa. Na nossa região, os jornais dão conta do esfaqueamento de um adolescente em Barbacena, da apreensão de drogas e armas em Andrelândia e de uma tentativa de assassinato com arma de fogo em Barroso.
Sobre o genocídio em nossas estradas e a epidemia de violência, nenhuma palavra da presidência. O agora já famoso tweet, no entanto, não escancarou apenas a falta de priorização. A estratégia utilizada com a divulgação do vídeo pode ser definida como uma tentativa de difamação por “exemplar saliente”. Esse é um conceito utilizado pelo linguista americano George Lakoff e significa apontar para um caso totalmente fora da curva, isolado, raro e negativo, com intuito sensacionalista de desqualificar todo um grupo social.
Essa tática faz parte do método do discurso de ódio e já foi empregada pelo presidente em outras ocasiões. Desta vez, felizmente, o tiro saiu pela culatra. Não faltaram críticas com relação ao absurdo da desnecessária multiplicação do vídeo. A esperança é que agora o presidente possa adquirir um pouco da maturidade e do bom senso necessários a tarefa de governar. O discurso de ódio e a falta de foco só servem para aprofundar as divisões entre brasileiros e não contribuem em nada para a solução dos nossos problemas.