Artigo originalmente publicado no Portal barrosoemdia.com.br em janeiro de 2011.
No último final de semana Barroso viveu momentos muito interessantes do ponto de vista sociológico. As apresentações que celebraram a diversidade cultural levaram um bom número de pessoas à praça e marcaram o que pode vir a ser mais uma festa no calendário turístico da cidade. Através da arte, sobretudo da música e da dança, os organizadores objetivaram chamar atenção para as diversidades, não apenas cultural, mas religiosa, esportiva, de idéias e de gênero. Realizações como essas são repletas de significados e se configuram como momentos propícios para a reflexão, tanto sobre os benefícios, como sobre os efeitos perversos das diferentes abordagens sobre o tema.
A cultura é justamente o que nos define enquanto seres humanos. A sociedade se manifesta em nós e nós nela, através da cultura. Cada grupo social possui suas regras, códigos, hábitos, linguagem e uma gama muito variada de elementos que os define e que dá os contornos de sua identidade. Como existem muitos grupos diferentes, existem também muitas tradições, ainda que haja muitas interseções e intervalos entre os costumes.
Os eventos que aconteceram em Barroso nos lembraram que devemos sempre respeitar o comportamento alheio e que as opções que as pessoas fazem para suas vidas não devem significar a privação dos seus direitos mais elementares. Ainda que sejamos diferentes em determinados aspectos, somos todos iguais no dever de respeitar e no direito de sermos respeitados.
As apresentações artísticas nos lembraram também que não existe diversidade sem tolerância. É somente através da tolerância que conseguimos conviver em paz, no entanto, nem sempre foi assim. Em toda a história, o homem sempre transformou diferença em desigualdade e, por isso, pagaram caro negros, mulheres, homossexuais, judeus, imigrantes e minorias, entre muitos outros. Se hoje vivemos em uma sociedade muito mais plural e tolerante, isso se deveu às iniciativas do passado que valorizaram a diversidade. Por isso a importância e daí o benefício e qualidade da iniciativa de se celebrar a diversidade cultural.
O pesar, que é preciso registrar, deve-se ao fato de o evento não ter se mantido coerente com a proposta em todos os momentos. A música que embalou a maioria das intervenções artísticas no sábado foi um funk carioca do Bonde do Tigrão cuja letra começava com uma discussão entre um casal e terminava com o homem listando os “direitos” da mulher “novinha”, entre eles: “seu direito de sentar; seu direito de rebolar; seu direito de ficar calada”, adiante, em outra música, a mulher cantava: “sou cachorra, faz de mim o que quiser”. Ao som da canção, dançavam também crianças, meninas.
O funk é um ritmo dançante, tradicional, genuinamente brasileiro e que muitos jovens admiram. O problema começa quando os cantores abrem a boca. Em sua maioria, as letras do funk não celebram a diversidade, pelo contrário, fazem o que de pior o homem sabe fazer com o seu semelhante: transformar a diferença em subordinação. Letras como essas criam uma hierarquia entre homem/mulher que não existe, ou não deveria existir. No universo do funk a mulher é objeto, é ‘cachorra’. Não há sensualidade sadia, pois não há respeito, sem respeito não há tolerância e sem essa não pode haver diversidade cultural.
O evento foi muito relevante e espera-se que continue nos próximos anos, porém, é preciso que os organizadores tenham especial atenção sobre as mensagens que estão transmitindo. A cultura se processa o tempo todo através de sutilezas, no jeito de se vestir, de dançar, nas letras das músicas, no humor e no comportamento de modo geral. Para que haja diversidade, as diferentes culturas têm que conviver de modo harmônico e horizontal, com cada um sendo sujeito de si e ninguém sendo objeto de ninguém.
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O Evento Diversidade Cultural segue crescendo, felizmente!
A influência do Funk também cresce na cidade, na maior parte do tempo associada a letras e eventos que reforçam preconceitos, subordinação da mulher, uso e abuso de drogas, violência gratuita, etc.
A exceção existe, em 2012 um evento de funk com o cantor Naldo mostrou que é possível curtir o gênero de uma forma menos tosca, menos violenta e com mais melodia. Nos resta esperar que de 2013 em diante esse evento de sucesso sirva de exemplo para os amantes do ritmo e do movimento.
Excelente artigo, principalmente, por duas razões: 1ª: Contempla o conceito correto de cultura, quando diz “A cultura é justamente o que nos define enquanto seres humanos. A sociedade se manifesta em nós e nós nela, através da cultura. Cada grupo social possui suas regras, códigos, hábitos, linguagem e uma gama muito variada de elementos que os define e que dá os contornos de sua identidade. Como existem muitos grupos diferentes, existem também muitas tradições, ainda que haja muitas interseções e intervalos entre os costumes.” 2ª: Pela crítica, muito bem fundamentada às letras do funk apresentado! Comparto com o autor a expectativa que os promotores deste louvável evento façam as devidas correções e ajuste e apresentem a próxima edição, já com uma qualidade próxima à perfeição!
Antônio, penso que o verdadeiro líder ai (Biografia de Getúlio) é João Neves da Fontoura. Arrojado, íntegro, idealista e coerente. E chama-me a atenção a juventude e inteligência de Osvaldo Aranha. Getúlio, bem, já se conhecia. Oportunista, titubeante e, por isto, pragmático. Penso que Getúlio se beneficiou da conjuntura da época: Falência do ciclo do café e sua influencia político-eleitoral. Que, infelizmente, na América LAtina, levou ao populismo e caudilhismo, agora recrudescente. A história segue……………
Caro Edgar, obrigado pelos elogios e pelo comentário crítico que contribui muito com o argumento hora apresentado. Estamos de acordo com algo muito importante: diversidade cultural não rima e não deve rimar com exclusão e humilhação.
Luciano, concordo plenamente com a sua análise da biografia de Getúlio. João Neves foi realmente o grande líder por detrás das principais conquistas de Getúlio, em especial da Revolução de 1930. Fico imaginando a decepção que ele não deve ter sentido quando Getúlio o nega o Governo do Rio Grande do Sul. Infelizmente, como ambos sabemos, a política tem muito dessas coisas, inclusive e especialmente em Barroso. A história segue…